Um novo paradigma para a indústria

Indústria em Revista
18/02/20
Roberto Hammerschmidt
REGIÃO
Sul
LOCALIDADE
Brasil - Paraná

Todos os dias, 150 toneladas de detritos são processados para serem convertidos em geração energética. Além disso, mais de 30 toneladas diárias de lixo se tornam plásticos, que podem ser transformados em subprodutos dentro da própria fábrica, ou vendidos para que sejam aproveitados pelo mercado.

A KWM é apenas uma peça do ecossistema da economia circular, uma engrenagem que faz com que os produtos rejeitados e descartados pelas indústrias voltem à linha de produção, sem perda de qualidade. Assim, eles podem ser reaproveitados, reduzindo a produção. “Resíduos também são recursos financeiros que podem ser novamente utilizados pelas indústrias. Além de poupar recursos naturais, há a oportunidade de redução de custos”, afirma Marcus Machado, diretor comercial da KWM.

A importância da estratégia A economia circular despontou como uma alternativa à economia linear, que envolve a extração, transformação e descarte de produtos. A aparição do conceito se deve principalmente a três fatores: a alta volatilidade dos preços das commodities, a crescente escassez de recursos naturais e o aumento significativo da quantidade de resíduos no planeta.

“O modelo econômico linear trouxe um crescimento econômico sem precedentes para a humanidade, mas hoje está chegando ao seu limite. Se o consumo de recursos naturais se mantiver neste modelo, as reservas disponíveis para alguns materiais se esgotarão em algumas décadas”, afirma Mauricy Kawano, coordenador de sustentabilidade do Sistema Fiep.
É fato que estamos chegando a níveis preocupantes de aumento populacional, extração de materiais e de produção de resíduos.

De acordo com a publicação Elementos de Economia Circular, do Observatório Sistema Fiep, nos últimos 40 anos a população mundial duplicou, o crescimento do PIB quadruplicou e a extração global de materiais aumentou 3,4 vezes. Sendo assim, as previsões mostram que, até 2060, a extração anual de materiais dobrará de volume.
Além disso, dados do Banco Mundial mostram que, em 2016, as cidades do mundo todo geraram 2,01 bilhões de toneladas de resíduos sólidos, o que equivale a 0,74 kg de produção de lixo por pessoa diariamente. Com o rápido crescimento populacional e urbanização, a entidade estima que a geração anual de resíduos deverá aumentar em 70% em 2050, chegando a 3,40 bilhões de toneladas.

“Grande parte desse cenário se deve aos atuais sistemas produtivos, que utilizam recursos finitos, eliminando resíduos aproveitáveis em um modelo voltado para o descarte”, afirma Marilia de Souza, gerente executiva do Observatório Sistema Fiep. Em tempos em que a sociedade pressiona para o avanço em direção ao desperdício zero, e tal modelo demonstra sinais de insustentabilidade, novos paradigmas inovadores de produção e consumo são cada vez mais demandados. É dentro desse contexto que a economia circular se faz tão necessária.

O modelo de produção circular A economia circular envolve a implantação de uma estratégia na qual todos os tipos de materiais são extraídos e elaborados para circular de forma eficiente e, sem perda da qualidade, serem recolocados na produção. O objetivo principal é evitar o desperdício e a perda de valor econômico-ambiental.

Procura acabar com ineficiências do processo produtivo, por meio da gestão eficiente dos recursos naturais, diminuindo ou erradicando a criação de resíduos e prolongando ao máximo a vida útil e o valor dos produtos. Nessa abordagem, os recursos não são entendidos como custos: eles são preservados e, depois de utilizados, são reinseridos de forma contínua e indefinida no processo produtivo.

Esse novo modelo de produção busca obter o máximo valor dos recursos em todas as fases do ciclo de vida, desde a extração de matérias-primas até o design, passando também pela produção e distribuição de mercadorias e pelo uso crescente de matérias-primas secundárias.
Considerando um cenário de escassez de recursos naturais, a economia circular permite a extensão da vida útil dos materiais por meio do design, da manutenção, do reuso, da remanufatura e da reciclagem.

A indústria vê a transição para a economia circular também como uma oportunidade de negócio. Esse modelo contribui para o aumento da competitividade de forma sustentável, por meio do uso racional dos recursos naturais e do desenvolvimento de novas cadeias produtivas, com geração de emprego e renda.

Empresas já investem De acordo com a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), no Brasil, 70% das indústrias pesquisadas nunca ouviram falar de economia circular. Entretanto, 76,4% já desenvolvem ações relacionadas ao tema, como a otimização de processos industriais, recuperação de recursos, extensão da vida útil do produto, entre outras.
No Paraná, diversas empresas vêm adotando a prática. É o caso do Grupo Boticário, que desde sua origem mantém o foco no desenvolvimento sustentável do negócio.

A Positivo Informática também se preocupa com o desenvolvimento sustentável desde o início de suas operações. Em 2018, a organização coletou e destinou, em média, mais de 121 toneladas mensais de resíduos diversos.
Além disso, 100% dos resíduos não recicláveis gerados foram encaminhados para coprocessamento (processo de queima controlada que reaproveita a energia do material no processo de combustão) no mesmo ano.

A empresa almeja, também, aumentar a destinação de resíduos eletroeletrônicos. Em 2018, foram recicladas 155 toneladas desses materiais. Desafios Apesar de todas as vantagens, a economia circular ainda enfrenta alguns entraves para ser adotada no Brasil. A transição do atual modelo econômico linear para circular exige, principalmente, políticas públicas, linhas de financiamento e novos modelos de negócio. As consequências de se produzir com intuito de minimizar o descarte levam novas oportunidades para as indústrias, abrangendo toda a economia, além de desafios como:

Inovação no desenho de produtos para maior circularidade;

Diminuição da dependência de matérias-primas virgens;

Redução das perdas nos processos produtivos;

Maior eficiência na distribuição;

Ampliação dos serviços de manutenção e reparo dos produtos;

Construção dos canais para logística reversa e reciclagem.

“Tendo em vista a crescente atenção para os conceitos como sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, partimos do princípio de que os produtos descartados precisam ser reinseridos na cadeia de produção”, afirma Júlio José Neto, responsável pela área de Sustentabilidade Ambiental da Positivo Tecnologia.

Implementar uma estratégia de economia circular também exige profissionais especializados em determinadas áreas, como automação, desenvolvimento de materiais, reparo e manutenção de todo tipo de produto, processos químicos e físicos de recuperação, entre muitos outros.

Entre os desafios pontuais a serem superados, cabe destacar as limitações de infraestrutura e a falta de incentivos para o uso de recursos secundários em múltiplos ciclos. Adicionalmente, perde-se muito valor no descarte inadequado de resíduos, que pode ser associado à falta de percepção de valor dos recursos, levando o mercado a não valorizar esses materiais.

Suporte para as empresas Como a economia circular é uma estratégia ainda embrionária no Brasil e no mundo, estudos sistematizados sobre sua situação atual são escassos ou inexistentes. Dada a importância do tema e buscando preencher essa lacuna, o Sistema Fiep lançou em novembro de 2019 o Roadmap Economia Circular 2031, um mapa com caminhos a serem trilhados pelos interessados no desenvolvimento da economia circular no Paraná Além disso, a instituição, por meio da Coordenação de Sustentabilidade e da Gerência dos Conselhos Temáticos e Setoriais, vem, desde 2012, articulando diversas ações com o objetivo de apoiar a indústria paranaense na estruturação dos sistemas de logística reversa de produtos e embalagens.

Em 2017, a Fiep teve papel decisivo na formação do Instituto Paranaense de Reciclagem (InPAR), instituição independente e sem fins lucrativos, que tem o propósito de operacionalizar um sistema de logística reversa de embalagens pós-consumo, visando atender às determinações impostas pela legislação vigente no âmbito estadual e federal. No mesmo ano, a Fiep, em parceria com o InPAR, criou o Seminário Paranaense de Logística Reversa, com o intuito de apresentar às indústrias paranaenses as principais temáticas correlacionadas à logística reversa de produtos e embalagens

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